2024 mostrou que o público só vai aos cinemas para animações franquias

As bilheterias de Divertida Mente 2 e Moana 2 ressaltam que grande parte do público só vê animações no cinema se elas tiverem um numeral no título.

Sucesso de Moana 2 mostra que o público só vai aos cinemas para animações ligadas a franquias

2024 mostrou que o público só vai aos cinemas para animações franquias. Você sabia que a última animação “original” a arrecadar mais de US$ 500 milhões nas bilheterias (ou seja, metade do total de Moana 2 e um terço do de Divertida Mente 2) foi lançada há sete anos? Trata-se de Viva: A Vida é uma Festa, da Pixar. Vale ressaltar que grande parte dos US$ 815 milhões que arrecadou globalmente vieram da China.

Desde então, somente sequências, ou pelo menos adaptações de propriedades intelectuais famosas (vide a série Aranhaverso, ou Super Mario Bros), conseguiram bilheterias superlativas.

Em 2023, Elementos faturou US$ 496 milhões ao redor do globo. Uma bilheteria decente, porém conquistada à duras penas, a despeito de críticas não muito entusiasmadas. É provável que o longa só atingiu esse valor porque foi o único filme para a família passando nos cinemas. Seus maiores concorrentes (Indiana Jones 5, Missão: Impossível: Acerto de Contas, Barbie, Oppenheimer) visavam o público adulto.

Mas não costumava ser assim. Até meados da década passada, os maiores estúdios de Hollywood ainda lançavam animações “originais”, ou pelo menos que não dependiam de nenhum sucesso de bilheteria passado para se vender.

Mas afinal, o que é uma animação “original”?

Vamos definir o que é uma “animação original”? Trata-se de um filme que ou é baseado numa ideia inédita (como Toy Story ou Monstros S.A.) ou pelo menos uma adaptação de algo (em geral um livro) que se configura como uma ideia nova para a audiência.

Sim, O Rei Leão é baseado em Hamlet e A Pequena Sereia foi retirado de um conto de Hans Christian Andersen. Porém, estas interpretações específicas de tais histórias foram tidas como novidade para a audiência na época de seu lançamento.

É bem diferente de, por exemplo, Procurando Dory, que conquistou o público por sua conexão com um filme do passado nostálgico.

A partir de 2018, animações originais deixaram de ser prioridade em Hollywood. Foi quando a Disney investiu com todas as forças em sequências de hits passados (Os Incríveis 2, Toy Story 4, Frozen 2).

Em 2020, quando a Casa do Mickey pretendia voltar a lançar originais, veio a pandemia e jogou vários deles para o streaming. É o que houve com Soul, Luca, Red: Crescer é uma Fera, ou mesmo Raya e o Último Dragão e Encanto, que receberam um parco e comprometido lançamento nos cinemas.

Não que a culpa por isso seja apenas da Covid-19. Pouco antes da pandemia fechar as salas de cinema nos EUA e Brasil, a Disney lançou Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, com resultados medíocres. Mesmo se tal longa tivesse saído num contexto “normal”, dificilmente teria sido lucrativo para o estúdio.

E por quê? Justamente porque ao longo das duas últimas décadas, o público passou a ir aos cinemas apenas para assistir filmes de franquias já conhecidas. Sejam adaptações de alguma propriedade intelectual que vale bilhões de dólares ou sequências de sucessos passados.

A mudança no comportamento da audiência

A audiência passou a assistir nos cinemas cada vez menos longas originais ou não atrelados à franquias. E isso vale não só para animações familiares como também para quase todo o cinema blockbuster hollywoodiano.

Duvida? Clique aqui e confira as maiores bilheterias de 1993. Você verá comédias (Uma Babá Quase Perfeita, Sintonia de Amor), dramas (A Lista de Schindler, Filadélfia), suspenses jurídicos (A Firma, O Dossiê Pelicano), ação que não envolve super-heróis (O Fugitivo, Risco Total)…

A maior bilheteria daquele ano foi Jurassic Park, que, claro, depois veio a se tornar uma franquia bilionária. Mas na época, venderam tal longa não por ter alguma conexão nostálgica com propriedade intelectual relevante, mas como a mais nova aventura de Steven Spielberg.

Sim, basearam-no em um livro de Michael Crichton, mas grande parte da audiência considerava-o uma ideia nova, nunca vista antes nos cinemas.

Em resumo: poucas décadas atrás, grande parte da bilheteria vinha de filmes de tipos que hoje em dia só são assistidos em serviços de streaming.

Bilheteria de animações ontem e hoje

E isso é ainda pior na indústria da animação. Perceba como, há 30 ou mesmo 20 anos atrás, as animações campeãs de bilheteria não eram franquias estabelecidas.

Os criadores baseavam-se em contos de fadas (A Bela e a Fera), clássicos da literatura (O Rei Leão, O Corcunda de Notre Dame, Tarzan), mitologia (Hércules, Mulan) e até na Bíblia (O Príncipe do Egito).

A Pixar encantava o mundo com ideias originais inovadoras (Toy Story, Vida de Inseto, Monstros S.A.). Já a DreamWorks tinha um pouco de tudo: adaptações literárias (Shrek), aventuras baseadas em mitologia (Sinbad: A Lenda dos Sete Mares) e ideias originais (Formiguinhaz, Madagascar).

Até meados da década passada, Hollywood ainda apostava em ideias originais (ou ao menos baseados em livros não traduzidos para esse meio). Entre 2010 e 2017, vimos os sucessos de Como Treinar o seu Dragão, Meu Malvado Favorito, Enrolados, Detona Ralph, Frozen, Zootopia, Pets: A Vida Secreta dos Bichos, O Poderoso Chefinho, o citado Viva

Divertida Mente e Moana, que ganharam sequências bilionárias em 2024, estão entre as últimas animações originais a fazerem números de um blockbuster.

Em 2015, o primeiro Divertida Mente arrecadou US$ 858 milhões, tornando-se a 7ª maior bilheteria de seu ano. Já em 2016, Moana finalizou com US$ 643 milhões, um total abaixo de Pets (US$ 875 milhões) e Zootopia (US$ 1,02 bilhão).

Nas atuais circunstâncias, você consegue ver uma animação original atingindo os números do primeiro Divertida Mente? Elementos, como dito acima, precisou reverter a abertura ruim e contar com a sorte de competir apenas com filmes adultos.

Ainda assim, ficou cerca de US$ 150 milhões abaixo de Moana. O qual, como você viu, não foi nem a maior animação original de seu ano.

Visão para o futuro

Será que voltaremos a ver animações originais de sucesso na telona? Ou o público se acostumou com sequências de tal maneira que agora só pagará para assistir longas animados que tiverem um numeral no título?

Apesar do desempenho de Elementos, a Disney dobrou a aposta em sequências. Teremos novos capítulos de Zootopia, Frozen, Os Incríveis e até Toy Story.

Mas a Casa do Mickey também prepara alguns originais. O primeiro deles será Elio, produzido pela Pixar. Infelizmente, tal longa está marcado para estrear no mesmo fim de semana do remake live-action de Como Treinar o seu Dragão. Isso põe Elio rumo a uma batalha que não pode vencer, apesar de seu sucesso ser crucial para a Disney.

Pois a empresa precisa que o público também assista a novas ideias. Se não, verá-se obrigada a apostar sempre na mesma dúzia de franquias. Afinal, não existiria um Divertida Mente 2 com faturamento de US$ 1,7 bilhão se antes a Disney não tivesse arriscado no primeiro Divertida Mente.

Dito isso, arrisca-se ao lançar ideias originais. Sempre há o risco de fracasso. E isso desde o início da indústria do cinema. Veja Star Wars, agora uma poderosa franquia multimídia. Nos anos 1970, o primeiro filme foi uma ideia arriscada de George Lucas, rejeitada por vários estúdios.

O problema é que hoje em dia, fazer filmes blockbusters se tornou algo tão caro que Hollywood não tem coragem mais de apostar em novos conceitos e ideias. A não ser que se trate de filmes independentes ou de orçamento menor.

Resumindo o público de franquias de animações

Mas de um modo geral, a indústria tem se sustentado nas costas de franquias e propriedades intelectuais, muitas das quais (Velozes & Furiosos, Star Wars, Avatar, Jurassic, etc) começaram décadas atrás.

Será que esse problema tem solução? Ou o cinema viverá eternamente de franquias nostálgicas?

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Fontes: Box Office Mojo, The Numbers

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